quinta-feira, 6 de junho de 2013

SER MÃE É PADECER NO PARAÍSO

 
SER MÃE É PADECER NO PARAÍSO
Quem já não ouviu ou pronunciou tal expressão? Quem já não fez uso de tal afirmação, quer seja para enaltecer a abnegação de uma mãe ou para consolá-la em meio aos desafios que surgem no cumprimento de seu papel? Fato é que a mera repetição da frase, sem refletir sobre o seu real significado, tira dela toda a sua riqueza e anula as possibilidades de se apreender grandes lições sobre a maternidade. Tentando entendê-la um pouco melhor, a primeira pergunta que me vem é: A que paraíso estamos nos referindo ou o que seria esse paraíso? Alguns duvidariam desse paraíso se levássemos em conta as noites mal dormidas, as fraldas sujas (no tempo que se lavava fraldas, é claro!), as cólicas, dores de ouvido, prisão de ventre, e tantos outros sintomas não passíveis de serem diagnosticados. Afinal, paraíso lembra jardins, Éden, prazer, necessidades satisfeitas, silêncio, descanso... Então, de que paraíso estamos falando? A única maneira de tentarmos compreender um pouco mais sobre essa afirmação é nos remetermos à sua origem e ao seu contexto imediato. A frase é antiga e data do final do século 19 e início do século 20 e consta do poema “Ser mãe” do escritor Coelho Neto.

Ser mãe é desdobrar fibra por fibra o coração! Ser mãe é ter no alheio lábio que suga, o pedestal do seio, onde a vida, onde o amor, cantando, vibra. Ser mãe é ser um anjo que se libra sobre um berço dormindo! É ser anseio, é ser temeridade, é ser receio, é ser força que os males equilibra! Todo o bem que a mãe goza é bem do filho, espelho em que se mira afortunada. Luz que lhe põe nos olhos novo brilho! Ser mãe é andar chorando num sorriso! Ser mãe é ter um mundo e não ter nada! Ser mãe é padecer num paraíso!

O paraíso a que o autor se refere se dá na relação entre mãe e filho. Uma relação confluente desde o seu início, pois é ela quem vai ceder o seu corpo para que ele seja gerado. É ela quem vai alimentar, cuidar, proteger. E tudo isso em troca do que? Em troca do reconhecimento do outro, do afeto do outro,  da vida do outro. Mas se a relação mãe-filho é que configura o paraíso, por que então o padecimento? A resposta é simples: Porque essa relação precisa ser rompida. Ser mãe é padecer no paraíso porque ela vai criar filhos que crescerão e baterão asas deixando o ninho vazio. Ser mãe é padecer no paraíso porque ela vai educá-los e de repente vai se descobrir muito mal informada quanto ao universo de seus filhos. Ser mãe é padecer no paraíso porque a proteção dada aos filhos quando eram menores começa a ser desnecessária e até prejudicial se permanecer exagerada. Ser mãe é padecer no paraíso porque as relações foram muito idealizadas e agora a realidade chega e fala de vidas que seguirão em caminhos diferentes. Ser mãe é padecer no paraíso porque o crescimento dos filhos denuncia o envelhecimento dos pais. Ser mãe é padecer no paraíso porque descobrimos que o paraíso não é eterno e muito menos constante em sua constituição, já que pais e filhos mudam e mudam também as relações.  Apesar de tudo isso, continuamos precisando de mulheres que, enquanto mães, tenham o desejo de investir nessa relação, que acreditem nesse paraíso, e que tenham a consciência de que no futuro tais relações não serão nem melhores nem piores, mas apenas diferentes.
Com amor e gratidão por cada mãe,
Pastor Carlos Henrique.
 

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